O que é que tem de novo nos dados divulgados no relatório da Câmara Municipal sobre exploração sexual em Fortaleza? Quando vi as notícias divulgadas esta semana, busquei na minha memória a década de 2000 e me lembrei de uma série de atores sociais, de instituições e de espaços coletivos de articulação e monitoramento de políticas públicas na cidade que, há mais de uma década, enfocam seus trabalhos e militâncias nas questões relacionadas à violência sexual contra crianças e adolescentes.
Refiro-me ao Fórum Cearense de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes, o Fórum de Direitos de Crianças e Adolescentes - formado pelas ONGs da cidade - e a Comissão do Pair da Prefeitura Municipal, que tem como objetivo articular ações de combate à exploração sexual. A Universidade Federal do Ceará (UFC), a Universidade Estadual do Ceará (Uece), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e a própria Prefeitura de Fortaleza, nos últimos anos, também realizaram pesquisas sobre esse fenômeno social. Enfim, muito dinheiro foi gasto diagnosticando. O que mudou foram os novos desafios cotidianos e relativos, principalmente, aos temas de violência, educação, saúde e sexualidade infanto-juvenil. Já sabemos quem são os exploradores, como funciona a rede, onde ficam os pontos, quem são as meninas e os meninos com corpos que transitam pela cidade. Infelizmente, essas informações não são novas.
O que não sabemos é quando crianças e adolescentes serão realmente tratados como prioridades em Fortaleza, no Ceará e no Brasil. Isso inclui um orçamento digno e eficiente, ações que não se sobreponham umas às outras e o reconhecimento de que existem muitas pessoas verdadeiramente comprometidas com essa causa, e que buscam constantemente novos aliados capazes de ultrapassar seus interesses pessoais e suas vaidades em nome de uma vida mais justa e feliz para as crianças e os adolescentes desse País.
Camila Holanda
Socióloga e consultora do Observatório da Criança e do Adolescente
Nenhum comentário:
Postar um comentário